domingo, 3 de agosto de 2008

Refletindo a realidade

Sua atitude já começava a incomodá-lo. A insistência em se manter fechado daquela forma o destruía a cada segundo. Dizer o que sentia não era tarefa fácil. Mas só ele sabia disso. As outras pessoas não entendiam o porquê daquela dificuldade em dizer o que estava lhe fazendo mal.
Só ele entendia.
Quando questionado sobre qual seria o motivo de se encontrar chorando em silêncio, onde tentava de todas as maneiras não dar pistas do seu estado, ele apenas responde que todos passam por momentos em que analisam toda a sua vida e percebem que o que fizeram até ali pode não ter valido tanto a pena.
Suas características são comparadas a de um indivíduo que cuida da imagem e esquece do conteúdo. Um indivíduo que vive com uma máscara, e, apesar de contraditório, percebe que é com essa máscara que ele mostra quem realmente é.
Sente que aquilo pode ser um sinal de que algumas pedras não foram retiradas durante seu trajeto.
Uma das pessoas que mais o inspiram, que mais o deixam fascinado acha isso.
Um balde de água fria cai em sua cabeça. A nostalgia começa a tomar conta de sua alma.
Esse sentimento começa a fazê-lo querer voltar no tempo e tentar melhorar as coisas.
Esse mesmo sentimento o mostra que isso não é possível.
Ele apenas respira fundo, passa as mãos sobre o rosto e olha para a pessoa que havia sido tão sincera com ele.
Ela direciona seu olhar para aqueles olhos mareados de culpa e decide conversar sobre aquilo.
Arranca dele uma informação importante.
Todo o seu medo se resume em existir a possibilidade de sua alma se transformar naquilo que ela havia proferido anteriormente.
Ele nunca quiz ser vazio assim. Se arrepende das vezes que a fez chingá-lo, que a fez ter raiva de ainda conversar com ele.
A resposta da garota é: "Carência. É isso, não é?"
A incerteza da resposta o faz acreditar que seja algo mais profundo que isso.
Suas palavras soam fundo dentro daquela mente. Ao perceber que, mais uma vez, ela havia acertado em cheio no que dizer, ele espalha um olhar vazio sobre o ambiente em que se encontrava.
"Essa é a sua última chance de me dizer o que você está sentindo" - sussurra ela minutos depois.
A confirmação da opinião lançada antes acontece.
"Todas as qualidades que você possui eu procuro em outras pessoas. Eu gosto de pensar que você é a idealização daquilo que eu mais procuro em uma mulher. Porque eu só consigo olhar para pessoas que eu sei que nunca vou ter pra mim?" - diz em um tom que apenas uma pessoa que estivesse bem próxima a ele entenderia. Bem próxima em todos os sentidos.
"Você deseja algo que está pronto. A idealização que você diz estar na sua cabeça é a soma de todas as minhas qualidades e também de todas as qualidades do meu namoro. Você sente falta disso na sua vida. Você quer isso pra você. Mas ninguém tem o direito de pegar as coisas prontas.
Abra seus olhos, construa tudo isso pra você." - ela responde com um tom que o faz enxergar tudo que não havia visto até ali.

Sem conseguir olhar diretamente para aquela pessoa, ele pergunta se pode continuar sentindo esse sentimento, que ele considera ideal, por toda sua vida.

A resposta é curta e precisa: "Deve!"

Os olhares mudam. As idéias mudam. A reação dos dois é muda.
O sol nasce. A noite que havia passado de forma tão sincera acaba. Ele se levanta, a abraça mais uma vez, agradecendo, mesmo sem dizer nenhuma palavra, a tudo que ela era. A tudo que ela vai ser para ele.
Sua carona chega e ele se despede com um olhar de nostalgia e, em seguida, um olhar de decisão, vendo à sua frente a chance de traçar seu destino.
Ser ideal para uma pessoa, procurando ser verdadeiro com a mesma.
Que mil sintam a sua sinceridade, por mais difícil que seja de entendê-la. Se apenas 1 sentir o prazer de conhecê-lo realmente, sua recompensa será muito mais valiosa.



Carter adora quando percebe momentos em que o valor dos sentimentos humanos entra em destaque. Trabalhar isso é querer melhorar, é querer evoluir. Isso é bom.

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