sexta-feira, 10 de abril de 2009

Acaso ou Presságio?

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O que tudo isso é? De onde tudo veio e para onde vai? Isso realmente era pra acontecer comigo? Mas qual o motivo?

Perguntas como essas intrigam a mente daqueles que pedem um tempo da frenética e necessária vida em sociedade para poder entrar nas edificações, vias e becos encontrados na existência humana.

Existem aqueles que apostam todas as suas fichas na idéia de que tudo existe por um motivo, por um propósito, como se um arquiteto houvesse projetado cada movimento desse complexo e instigante espaço chamado universo. Há também os que acreditam que trata-se da famosa coinscidência. Aquela que diz que tudo não passa de acaso, pois a mensagem que você encontrou ali poderia ter sido encontrada por qualquer um e só caiu nas suas mãos porque você estáva no momento certo e no lugar certo.

Aristóteles, Sócrates, Platão, Demócrito. São deles os argumentos que rebatem essa segunda opção. Para eles, aceitar que tudo acontece sem um motivo em especial é querer dizer que a vida existe apenas porque não poderia ser diferente. Isso é vago. A sede que tinham de conhecimento não era explicada apenas com um gole de água salgada como essa explicação metaforicamente pode ser encarada.

Somos regidos por uma divindade ou por povos de outras galáxias? Somos experimentos realizados por eles ou criações divinas de algo ou alguém que realmente tem esse dom?

O fato é que, mesmo sendo experiências ou divindades, temos nosso próprio dom em mãos: o dom de questionar tudo isso, pois como já dizia um grande pensador da história "aquele que não questiona a vida não é digno de vivê-la".

A arte de pensar já foi mais trabalhada. Na época dos pensadores supracitados, toda atitude era pensada para que a ordem da "maioria tem sempre razão" não fosse acatada. A maioria pode ter uma opinião que não é a correta. É preciso pensar, usar a imaginação para idealizar situações que nos mostrem como tudo aconteceria caso nossa opinião fosse a verdadeira. O cérebro humano é como qualquer planeta do sistema solar. Explorá-lo por completo pode demorar por muito tempo, isso se realmente conseguirmos um dia. Talvez a única habilidade que necessitamos dele seja essa, a qual essas palavras se referem nesse momento.

A sociedade precisa reavaliar seus conceitos, parar de andar no piloto automático. Vários seres humanos já provaram que podem ser surpreendentes sem que isso seja algo catastrófico. Todos eles sabiam da força da única arma que realmente temos a capacidade de controlar e só não o fazemos por conta de vícios que vêm consumindo a humanidade aos poucos.

Acordar todas as manhãs e questionar tudo que lhe aconteceu no dia anterior tentando entender tudo que irá acontecer a partir dali é perceber que podemos não ter todas as respostas, mas podemos sim encontrar algumas, e uma delas já nos dá uma certeza que por si só tem uma força enorme quando assimilada por completo: a de que só podemos contar e acreditar uns nos outros.

domingo, 5 de abril de 2009

Como se usa um escafandro?

(Fim de tarde, em algum lugar do hemisfério sul)
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- Hey George, cheguei!
- Olá Ann, como foi o dia?
- É, tudo correu como o esperado. É o que a rotina costuma fazer (risos).
- Imagino. Ah, olha só, loquei um filme pra assistirmos. Me acompanha?
- Claro amor, deixe-me só tirar esse cheiro de escritório do corpo e já venho. Me espera?
- Claro Ann. Mas não durma na banheira, ok?
- (risos) Ok, vou tentar...
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(Algum tempo depois)
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- Prontinho, tentei ser rápida e penso que consegui. O filme é de quê?
- Me disseram que é um tipo de drama. Recebi boas recomendações dele.
- Ok, então aperte o play logo!
- Não não, a pipoca tem que fazer parte do show. Espera só um pouquinho amor.
- Disse tudo, vai lá.
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(...)
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- Prontinho Ann, podemos começar.
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(algumas horas depois)
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- Hum, forte o tema. Não sei, não gosto de violência. Acho que não gostei tanto desse filme George.
- É, também fiquei meio perturbardo. Mas as cenas das mortes ficaram muito realistas, você viu?
- Sim sim amor, realmente, são o ponto forte desse filme.
- Nossa, são sim. Quando o rapaz prende a moça no arame e... Hum, amor, sei que não faço muito isso, mas comecei a pensar em uma coisa. Você percebeu que ficamos de alguma forma fascinados com as mortes em todos os filmes desse tipo que assistimos?
- Hum? Ah George, sei lá. Acho que é valido quando se trata de ficção. E é por isso que muitas pessoas ganham dinheiro. Elas sabem que não vamos levar isso tão a sério a ponto de sentir repulsa.
- É, pode ser. Mas é estranho. Quando paro pra pensar, vejo que o ser humano tem uma atração pelo mórbido. Me dá calafrios dizer isso, mas acho que todos temos um lado sádico escondido.
- Nossa George, mas eu, por exemplo, não consigo matar uma barata sequer! Não me inclua nessa sua generalização, por favor.
- Não me entenda mal Ann. Acho que estou viajando demais. É que depois de pensar um pouco, eu fico na dúvida se existe essa barreira separando ficção e realidade.
- Hum? Não entendi...explique-se melhor.
- Ok, vejamos bem. Nesse filme, por exemplo, estávamos torcendo pela mocinha o tempo inteiro. Para que ela matasse o vilão e conseguisse sobreviver, não é?
- Sim sim, e daí?
- Ann, eu lhe pergunto, como você diz que não levamos tão a sério o que nos é apresentado se, enquanto o filme passa, participamos ativamente, torcendo para que ela o mate? E se isso acontece? Qual a diferença disso para o que aconteceria se fosse o contrário? Da mesma forma, não se trata de um pensamento sádico? Não se trata de querer ver a morte na tela da tv?
- Nossa George, me senti culpada agora.
- É, me senti assim também.
- Amor, talvez com o tempo, a humanidade tenha se acostumado tanto a ver coisas assim acontecerem, que a ficção acabou sendo incorporada pela realidade, o que a faz ser mais uma rotina na vida das pessoas. O que me assusta é o tema.
- Realmente Ann. Uma metáfora para isso é, por exemplo, um acidente de carro. Já percebeu como as pessoas se dirigem rapidamente até o local para ver o resultado daquele acontecimento? Muitas até torcem para ver algo mais forte. É impressionante.
- O ser humano é complexo. Em casos como esse, chega a ser patético.
- É, é verdade. É um ser vivo de extremos. Criamos coisas maravilhosas e proporcionamos momentos intensos. E promovemos também os piores sentimentos possíveis, através das piores maneiras existentes.
- Interessante conversar sobre isso. Fazia tempo que não guiava meus pensamentos assim.
- Realmente Ann. Acho que a filosofia me ajudou um pouco, mas todos têm capacidade de fazer isso. Basta querer. A verdade é que a sociedade se acomodou.
- Talvez a rotina a forçou a se acomodar. Mas uma coisa não entendi amor. Te disseram que se tratava de um drama? Para mim, é um filme gore, não?
- É, estranho isso. Mas acho que quando me disseram, se referiam ao buraco que a sociedade está cavando para si mesma. Penso que pode ser seu túmulo (risos).
- É, é verdade...
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(barulho de tiros do lado de fora)
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- O que é isso amor?
- Tiros Ann, vamos ver se alguém se feriu!
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(Janela aberta, olhares curiosos)
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- Acho que não foram nessa rua...
- É, parece que não. Bom amor, quer que eu lave a louça?
- Seria ótimo amor. Enquanto isso, vou ver o que tá passando na tv.
- Ok Ann.