segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Abrindo os olhos, fechando a alma

Ele sente que tudo acabou. Ela o prova que agora vive da realidade. Aquela relação que antes possuía a qualidade de fazê-los se encontrarem em uma realidade que eles mesmos construíam encontra-se desfigurada. Ele tenta mostrá-la que se os dois se mantivessem juntos no mundo que criaram a amizade poderia ser diferente das que eles estão acostumados a ver todos os dias. Poderia ser melhor. Ela mostra que não quer embarcar mais nessa viagem.
Diz com duras palavras que ele não cresceu. Ele ouve calado toda aquela lição de como mudar uma personalidade do dia para a noite. Ela o compara a todos que estão à sua volta. Odiando ouvir aquilo, ele imagina que ser diferente às vezes pode não ser o bastante para as pessoas que nos importam de verdade. Elas podem querer o casual.
Ela diz que ele nunca vai tê-la. Mas ele nunca quiz tirá-la do homem que ela ama.
As qualidades que ela possui são ditas por ele, mas ela as compara à uma cantada das mais comuns.
A intenção dele nunca foi tê-la como namorada, como esposa, como mulher. Ele apenas queria mostrar para alguém o quanto valoriza o sentimento que sente por este ou aquele. Ele apenas queria que ela viajasse, que ela imaginasse que ali teria um eterno admirador. Um admirador de sua personalidade. Um admirador de seu namoro. Um admirador de suas atitudes.
Ela parece não entender mais. O tempo foi crucial para decidir o caminho que essa amizade tomaria. Sua parceira de viagens tinha ficado em algum lugar do caminho percorrido até ali.
A reação que tem ao perceber que ela se tornou uma pessoa que se afugenta nas condutas da realidade para mostrar que "cresceu" o faz entender que nem todos aceitam que essa é a pior coisa a se fazer com sentimentos que muitos não sentem durante sua passagem por essa vida.
Sentimentos que os dois haviam construído. Um amor sem possessão. Uma confiança em olhos fechados. Uma sinceridade contínua. Uma amizade diferente.
Aquela garota que ele já conheceu tentando entender. E isso para ele era o máximo. Ele queria apenas ouvir dela tudo que ela sentia. Ela o fez por algum tempo. Com certeza, um dos períodos mais interessantes de sua vida.
Mas agora, ele a vê simples. Agora, ele a vê sem mistérios. Ela é realista. Ela resumiu tudo que ele mostrou até agora como sendo uma simples cantada. Uma cantada? Se ele nunca quiz tirá-la do homem que ela ama?
Ele sempre admirou tudo que aquele namoro representava para ele. E agora ele é um simples animal a fim de alguém?
Mesmo que fosse, pensaria muito antes de tentar. É o seu jeito. É a sua personalidade.
Sentindo que aquilo abriu uma ferida em sua alma, ele apenas se vira e vai embora.
Não quer ouvir lições de como se tornar uma pessoa comum, principalmente vindo da pessoa que participava de um mundo que os tornava diferentes.
Não sabe se vai voltar a vê-la. Ele não quer.
Existem duas possibilidades para uma relação, seja ela qual for, se tornar duradoura. Ou a atitude dos envolvidos faz com que os mesmos vejam o seu fim, tornando-se assim única, ou ela dura o bastante para se tornar comum.
Ele sentiu isso na pele.
Agora, se sente sozinho novamente. Ao menos tem a certeza de que aquilo é o que ele é. E não pode se tornar só mais um em um mundo que está cheio de comodidades e condutas que controlam todos os movimentos e até pensamentos de uma pessoa.
Desculpe-o, pois ele apenas queria que você lutasse pelo que disse acreditar de verdade.
Ao ouvir isso, Carter apenas fecha os olhos e pensa como seria bom se todos fossem aptos a pensar dessa forma. Mas se todos pensassem, seria comum. Sendo comum, não teria mistério.
Essa vantagem diferencial é o que torna alguns indivíduos interessantes. O que acontece é que às vezes esse interesse não é compartilhado por muito tempo. Infelizmente.

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