sábado, 25 de julho de 2009

Berros e Sussurros

-

Certa vez me perguntaram qual o motivo de não possuir a companhia de nenhuma mulher que eu pudesse chamar de minha.
Respondi que não era escravo de minhas opções, mas sim de meu desejo.
Desejo esse que me atormenta sempre que lhe vejo.
Teu olhar penetra fundo, fazendo com que minha alma não se importe mais em exalar mistérios.
Teus pés, próximos ao meu colo, me fazem sentir uma vontade incontrolável de tocá-los, de fazer com que teus lábios sejam devorados pelo seu próprio êxtase.
Minhas mãos a tocam, me fazendo pensar que não posso cumprir a promessa que me fiz, minutos antes de encontrá-la.
Não dá, ao menos não neste momento.
A palma de minha mão a acaricia, se aproximando cada vez mais da essência de teu corpo, e teus olhos fazem o possível para fixarem-se em mim, sem sucesso, pois sabem que até eles, naquele momento, perdem o controle sob suas reações.
O perigo nos avisa, grita em nossos ouvidos. Nós escutamos tudo, inertes, ignorantes, decididos.
A certeza do desejo aumenta cada vez mais e nossos corpos decidem que não mais ficarão separados.
Eu a levanto, ergo-a a uma altura em que possa imaginá-la como um anjo, com asas que a fazem ficar leve como uma pluma, por abanarem-se no momento exato.
Neste momento, você é minha.
Meu corpo adquiri uma nova vida, com novos sentimentos, vivendo, temporariamente, em um novo mundo.
Um mundo onde o medo, o receio e as amarras da realidade não se fazem tão poderosos.
O brilho pesado e de incriminador que antes ofuscava minhas vistas já não existe.
Sua mão já não o indica mais pra mim.
Você decidiu entregar-se por inteira.
Minha boca decide sentir o teu gosto, fazendo com que você sinta sua consciência berrando, mas em um misto de prazer e alerta.

Você se consome por saber que quer fugir dali, desejando ficar pra sempre.
Não somos mais donos de nada.
Sentindo-nos livres, perdemos o controle.
Somos, agora, apenas reféns.



Carter.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Palavras lançadas

Não sei o que acontece comigo às vezes. A questão que mais me assusta é não descobrir o que é e, no final da minha vida, essa resposta se apresentar a mim, dizendo que estava logo aqui, debaixo do meu nariz. Eu quero as pessoas ao meu lado, mas pareço não me importar em lutar por elas. Ao menos não explicitamente, como deveria. Elas reclamam, me xingam, me dizem importantes verdades e voltam dizendo que não conseguem ficar com raiva de mim por muito tempo.
E eu demonstro. Eu sei que sim. Mas do meu jeito, o que parece não ser o bastante. Eu as respeito, eu as prezo, eu as admiro muito. Mas pensando bem, o meu erro pode estar em manter isso pra mim. Quando se sente tantas coisas boas por alguém, o significado de cada sentimento não é totalmente visto por nós, que sentimos, mas sim pelas pessoas para as quais os demonstramos, entende?
Não há motivo pra guardá-los conosco. Eles não existiriam se não tivessem como único objetivo serem complicados. É, pode ser esse o meu erro sim. Engraçado como eu não sinto tanta falta desse compartilhamento. Talvez porque não sou eu quem deva sentir essa sensação, mas sim as mesmas pessoas que compartilham comigo seus sentimentos.
Eu errei. Errei por muito tempo com muitas pessoas que poderiam ter marcado ainda mais minha vida. Outra coisa engraçada me vem agora à cabeça. Como percebemos isso apenas depois de perder cada indivíduo que estava ao nosso lado, como as nuvens que sempre acompanham, estáticas e belamente inspiradoras, o sol. E mesmo havendo aqueles dias em que não conseguimos enxergá-las, temos a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, elas voltarão.
Ficar sem escrever não foi bom. Aqui encontro uma pessoa que eu sei que vai me ouvir e vai conseguir me dizer o que tenho que fazer. Mas talvez eu deva escrever não para mim mesmo ou para pessoas as quais ainda estou conhecendo, mas sim para aquelas que mostram diariamente que torcem e gostam do que eu sou. Talvez algumas cartas representem a vontade que tenho de mudar, não é?
Em um lugar assim, onde as pessoas possuem almas tão fragmentadas e instáveis, as palavras podem representar uma metamorfose em formas de agir e pensar, pois todos sabem que, quando tudo isso acabar, nós perceberemos que só podíamos contar uns com os outros ao longo de todo esse tempo. Ou vai dizer que você não balançou a cabeça positivamente quando leu o trecho em que digo que nós só percebemos o valor de algo quando nos deparamos com sua perda?
Pense nisso. Eu o fiz.
Grande abraço. Carter.