quinta-feira, 24 de julho de 2008

"Upando" a Confiança

Carter sempre encontrou, na tecnologia, motivos para considerá-la uma de suas maiores aliadas. Conheceu pessoas, aprendeu com todas elas e fez com que suas idéias fossem apresentadas e, posteriormente, elogiadas ou criticadas.
Exemplos de espaços nela encontrados não faltam. Ele sempre observou a capacidade de cada um em esculpir relacionamentos duradouros e, também, a facilidade com que podem afetar negativamente os mesmos.
Nessa quinta-feira, durante sua caminhada, ficou pensando na definição que todos dão ao Orkut, um dos sites mais utilizados no Brasil. "Site de relacionamentos". Carter comparou experiências boas e que confirmam essa definição, e outras, não tão bem sucedidas, que põem em dúvida a mesma.
Pois bem, ele decide se aprofundar mais e relembrar de casos negativos, em que o tal "site de relacionamentos" foi parte fundamental para seus respectivos desfechos.
Carter decide utilizar as palavras da própria "vítima" do site:

Eu amava meu namorado. Sempre fiz de tudo por ele. Sem o relacionamento que nós havíamos cultivado, eu não poderia me considerar uma pessoa feliz. Nunca fomos fãs desse site. Mas mesmo assim, todos diziam que era interessante. Resolvemos participar.
Durante um bom tempo, curtíamos como qualquer um as oportunidades que o espaço oferecia.
Conhecíamos novas pessoas e fazíamos questão de divulgar nosso relacionamento, para que assim, todos soubessem que eu tinha um dono e vice-versa.
Certo dia, eu recebo um recado de uma mulher, aparentando em torno de 23 anos, dizendo que eu deveria ficar com os olhos mais abertos. Não entendi o porquê daquilo, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha. Ela insiste. Diz: "Talvez devesse manter o seu relacionamento sobre rédias curtas!". Decidi, depois disso, conversar com meu namorado. Ele ficou assustado e disse que aquilo era apeas curtição de alguém. Minha desconfiança aumentava à medida em que ela mandava mais recados.
Confesso que me assustei comigo mesma. Depois de tantos anos de relacionamento, eu ficaria tão insegura?
Sim. Ficaria. Comecei a procurar indícios de uma possível traição. Ele continuava jurando de pés juntos que não havia nada de errado. Eu comecei a não olhá-lo do mesmo modo que antes.
Depois de algum tempo, o desespero chegou ao ponto de eu ter que vasculhar tudo ele havia postado, tudo que ele possuía dentro do site e ficar de olho em suas ligações. Ele já não era o mesmo. Me olhava de um modo tão angustiante e eu não percebia.
Mesmo assim meu ciúmes crescia, transbordando no dia em que a tal guria posta uma foto dele, dizendo que aquele era o amor dela.
Eu não me reconhecia mais. Disse tudo que não deveria dizer a uma pessoa que eu amava. Ele apenas olhou nos meus olhos e disse: "Eu só queria sua confiança."
Aquilo caiu como um balde de água fria na minha cabeça. Ficamos meses sem nos falar. Eu chorava todas as noites.
E então chega o dia em que fico sabendo que ele se mudou para outro estado. Conformada com o que havia acontecido, eu decido continuar a investigação sobre quem era a tal pessoa.
Peço ajuda a amigos, parentes e tudo mais. E descubro que era apenas a ex-namorada dele, trocada por mim, o que deu início ao nosso relacionamento, e a fez se passar por alguém, visando acabar com o nosso namoro. Ela conseguiu. Novamente, me sinto impotente.
E pensar que tudo que ele queria era confiança.


Analisando a história acima, Carter fica pensando no que leva uma pessoa a acreditar, logo de primeira, no que alguém que ela nunca viu diz. Ok, o Orkut pode ser um ótimo lugar para fazermos amizades, e isso não deixa de ser um relacionamento, mas a intenção não bate com os resultados. E não por erro dos desenvolvedores. Mas por erros cometidos por nós mesmos.
Seria o caso de criarem um link que ficará em destaque no momento da criação da conta, que dirá: "Você tem namorado (a)?" "Se tiver, por favor, não participe!".
Quer fazer alguém se sentir traído? Deixe um recado dizendo: "Nossa, ontem a noite foi maravilhosa!", ou talvez: "Obrigado por ter me ligado. Te encontro no lugar marcado".
Carter só não espera chegar ao ponto de ter que mudar a definição para "Site Anti-relacionamentos".
A capacidade de acreditar na pessoa que está ali, do teu lado, parece que não exerce mais influência sobre as mentes dos apaixonados de plantão. Existem casos em que a traição é real? Claro que existem. Aos montes, por sinal. Mas mesmo assim, existem casais que não merecem ver o que não existe.
A influência exercida pelo site é tanta, que Carter não duvida que daqui a alguns anos, um namoro se caracterizá por acontecer da seguinte maneira:

- Posso fazer Login e interagir contigo?
- Claro. Digite sua senha e me deixe um recado, que retornarei em breve.
- Ok. Possui algum profile extra?
- Não não. Estou sozinha nesse aqui mesmo.
- Deixe-me lhe apresentar à minha comunidade "Olá, sou novo por aqui!"
- Ok, vou adicioná-la. É só você me aceitar.

- Nosso relacionamento não está indo bem. Vou apagar todas as fotos suas que estão no meu álbum. Por favor, não me mande mais depoimentos.
- Ok. Não o farei. Só quero que você entenda que depois que me excluir do seu networking, eu não irei adicioná-la mais!
- É assim? Então adeus! (Amigos -> João -> Delete.)
- Ela me excluiu? Será? Vou fazer um profile falso para espioná-la! Vai que outro Profile é o motivo do término do nosso namoro?!


Mais ambientado, impossível.
A tecnologia é apenas uma ferramenta. Não uma sentença.
Carter decide ligar para algumas pessoas, porque não existe nada melhor que ouvir a voz e sentir a respiração de alguém que você sabe estar ali realmente.

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