sexta-feira, 25 de julho de 2008

Imprevisível

Véspera de fim-de-semana. Carter pensa no que fazer para aproveitar os próximos dias da melhor maneira possível. Não quer ficar parado, esperando que alguém o chame para fazer algo. Isso nunca dá certo. Sempre o chamam de última hora, dizendo que acabaram de pensar em algum programa. Claro que é apenas um pretexto para não chamá-lo sem ficar com peso na consciência. Ao menos, ele acredita nisso.
A semana foi boa. Ele consegue escrever sobre algumas características de sua personalidade, divulgando-as a quem quiser entendê-las. Durante os dias que passou tendo esse como seu principal objetivo, Carter percebeu que isso o animou bastante, pois mesmo que poquíssimas pessoas tenham lido, ele sente que esse número foi significativo, pois seu mundo já não é habitado por somente uma alma.
Sente falta da garota que o mostrou como isso é bom. Lembra-se do dia em que ela, com um sorriso maravilhoso, o convidou a conhecer o seu mundo. Carter descreve o momento em que ele não gostaria de estar em nenhum outro lugar, se não ali, assistindo-a e admirando-a.
Ela o pergunta se ele gosta de se fantasiar. Ele fica intrigado. Ela envia o convite para que ele aceite a conexão via Web Cam. Ele, sem pensar duas vezes, aceita. O rosto maravilhoso daquela garota, que parece possuir a mesma personalidade que ele, aparece. Seus olhos verdes são o destaque das imagens. Ele a responde que nunca experimentou se divertir daquela forma. Ela o envia fotos em que ela aparece fantasiada de vários personagens de histórias infantis. Desde bruxas a bonecas de pano. Ele abre um sorriso. Aquele mesmo sorriso que abria quando sua vó o surpreendia com festinhas de aniversário surpresas. Fica intrigado, mas sabia que a alma daquela garota ainda era a de uma criança. Novamente, ele diz que nunca havia feito aquilo, mas que, ao ver aquelas fotos, tinha acabado de sentir que era o que ele mais queria fazer no momento. Ela abre um sorriso. Logo em seguida, diz que vai pegar o material que usa para se maquiar e se fantasiar.
Volta com um alegria que o contagia com uma força divina. Ela diz: "Qual seu personagem favorito?"
Ele responde: "Aquele que consegue dizer tudo sem pronunciar nenhuma palavra".
Ela sorri, e começa a fazer o contorno em seus olhos. Os mesmos olhos que o conquistaram por sua alegria e, ao mesmo tempo, por sua solidão. Os mesmos olhos de alguém que havia encontrado ali, uma pessoa que a entendesse e que, por sua vez, a fizesse também tentar entender. Aqueles olhos verdes que naquele momento ganhavam uma nova personalidade.
Seu olhar, que já era profundo, fica ainda mais quando se encontra sobre uma forte sombra preta. Ela pergunta para ele se está ficando bom. Ele diz que está ficando imprevisível. E isso, em suas palavras, é uma coisa muito boa.
Seus olhos de esmeralda se fixam em um espelho, auxiliando-a em sua próxima tarefa. Sua pele, que já era frágil e suave, fica ainda mais quando ela desliza sua mão sobre seu rosto, espalhando claridade sobre o mesmo e escondendo-o de tudo que podia afetá-la naquele momento.
Seus lábios finos se encontram com a ponta de um lápis, que faz questão de tirá-los aquela cor rosada que os deixava hipnotizantes. Um tom escuro entra em cena. Cada vez mais intrigante ela se torna. Seu rosto ganha um tom misterioso. Um tom "Dark". Ele fica hipnotizado, enquanto ouve algumas músicas que ela havia o enviado.
Com o cabelo preso, ela o pergunta o que poderia fazer no rosto para que uma de suas característica entrasse em cena. Ele diz que ela poderia fazer uma lágrima. Ela sorri, e atende o pedido. Logo depois, ela desenha algumas cicatrizes, que o fazem lembrar da boneca Sally, de "O estranho mundo de Jack", filme que ele sempre adorou. Ela diz a mesma coisa.
Sua nova personalidade está formada. Uma garota misteriosa, intrigante. Ela solta seu cabelo e olha atentamente para a tela. Seu olhar se encontra com o dele. Algo ali estava em sintonia. Ele diz que não queria estar fazendo mais nada. Diz que queria apenas estar ali, conversando com ela.
Ela diz que aquela é a sua face de mistério.
Logo em seguida, lava o rosto, sorri e diz que a parte mais complicada é limpar a região dos olhos. Ele ri sozinho, enquanto a diz que ela não existe.
Aquela criança em corpo de mulher o deixa fascinado. O faz querer um dia poder ter essa alegria que ela tem ao encarar a vida. Sua face misteriosa é apenas uma de suas várias demonstrações de sentimentos.
Ela decide então mostrar uma outra face de sua personalidade.
Mas Carter decide deixar para descrevê-la assim que possuir palavras para isso.

Um ótimo fim-de-semana a todos.

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