sábado, 6 de setembro de 2008

Movimentos Involuntários

O relógio marca quase meia-noite. As nuves escondem a face brilhante e aterrorizante da lua. A conversa entre as duas garotas é quase um ato prazeroso e obrigatório. Enquanto contam seus segredos, o vento bate nas janelas que o arremessam de volta ao clima sombrio encontrado do lado de fora. Thalitta, mais conhecida como Tita, tenta convencer sua amiga, oferecendo-a uma oportunidade de cometer uma loucura, como nunca fez em toda sua vida. A piscina é o alvo. O relógio quase as convence de que não é uma boa opção. Mas para os loucos, a boa opção nunca é a melhor.
Seus passos ecoam pelos corredores do hotel. O sono dos hóspedes ecoa mais forte, fazendo com que eles nem sintam que ali se encontram duas garotas prestes a conhecer o significado da palavra medo.
O roupão é lançado em direção às cadeiras encontradas ao redor da piscina. As duas mergulham como se acreditassem que, submersas, encontrariam o motivo de terem sentido aquela vontade de fazer algo diferente, algo fora do padrão. Não que nadar de madrugada seja tão fora do padrão assim, mas convenhamos que, em uma noite de frio, não é o melhor a se fazer.
Elas sabem disso. O frio bate na pele como se quisesse entrar dentro do nosso corpo. Os arrepios são constantes. As mãos de Tita se esfregam, uma na outra, tentando criar atrito o bastante para esquentar todo seu corpo. Ela percebe que seus dentes se batem, ela tenta dizer isso à sua amiga, porém, só consegue dizer que está "muito friiiio".
Resolvem voltar para seus respectivos quartos. Sorrindo, elas pegam o elevador sozinhas, ou em grupo, em meio à multidão de emoções que teima em fazê-las sorrirem, mas sempre avisando-as que algo está por vir.
O corredor de destino se encontra vazio. Em passos curtos elas vão olhando, número por número, a referência de cada quarto dali. Chegando ao quarto de número 805, elas percebem que a aventura estava muito perto de chegar ao fim.
Leigo engano. Tita envolve a maçaneta com sua mão, faz um movimento para a direita, mas não obtém resposta. Engraçado. Sua mãe havia dito que deixaria a porta aberta. A dúvida toma conta de sua mente por alguns segundos. A partir daí, o clima encontrado em meio às nuvens mostra sua verdadeira face. Tita bate na porta, toca a campainha e ninguém responde. Incessantemente, ela repete o movimento que resulta em um sonoro aviso de que alguém está ali. Mais algumas vezes, nada acontece.
Com frio, medo e dúvidas, as duas garotas entram em desespero, pois não há ninguém para ajudá-las, e o risco de se pedir ajuda a alguém que não conhecem é muito grande. Muitos diriam para pedir ajuda à recepção do Hotel, mas elas não conseguem se mexer de tanto medo. Motivo? Logo após as tentativas frustradas de tentar chamar atenção através da campainha, elas ouvem um grito que ecoa por todo o hotel. Um grito estarrecedor. Um grito paralisante.
O medo escala a espinha de cada uma delas. O abraço é inevitável. Pela primeira vez, elas se abraçam por um motivo diferente do habitual afeto que têm, uma pela outra.
A bateria do celular não responde. Suas pernas fazem o mesmo. O escuro toma conta do corredor.
Tita se lembra que seu vizinho havia conversado com sua mãe há alguns dias. Ela resolve tentar bater em sua porta, quase que sonhando com o momento em que ele a ofereceria seu telefone para que ela pudesse pedir ajuda à sua mãe.
Mas antes de encostar na campainha, ela percebe que o número 806 não estava mais ali. Mas ela havia visto o mesmo dias antes. Porque haveria de sumir assim?
Segundos depois de se perguntar isso, Tita olha para sua amiga de uma forma, digamos, "decepcionante". Sua amiga não entende, pois ainda se encontrava em estado de choque. Aquele grito poderia ser um assassinato! Ou pior, algum tipo de tortura poderia estar acontecendo ali, naquele momento. Tita pede para que ela se acalme e olha para o relógio. Os ponteiros a dizem que é hora de contar a verdade.
Com claras palavras, ela diz: "Estamos no bloco errado."
As risadas são frutos dessa frase.
Com passos lentos e olhares perdidos, elas se dirigem ao outro bloco, vizinho deste que havia proporcionado tantas aventuras em tão pouco tempo a essas duas garotas.
Tita abre a porta de seu quarto e corre em direção ao lado direito da cama onde sua mãe se encontra. A abraça e diz que a melhor coisa que já aconteceu em sua vida é notar o quão belo é o silêncio das pessoas que ela ama. Pelo menos durante alguns dias, Tita e sua amiga não querem ouvir falar em gritos.

Carter fica fascinado quando, em um simples equívoco, as pessoas encontram animação para descrever de forma fantástica o significado que aquilo possuiu durante todo o tempo em que se tornou eterno.
Assim, o nosso amigo os deseja um bom fim-de-semana.

Um comentário:

  1. ei Carter!acho que eu compreendo o jeito como escreve,se parece muito com o meu ,me identifiquei quase cegamente pelo modo em que você expõe detalhadamente as sensações e cria em uma situação tão simples um mar de sensações,o contexto enigmático por serem amigas que sentem um amor tão proximo ,mais isso só é demonstrado quando o medo é mais forte do que os bons modos.
    ficaria feliz se fosse e postasse no meu blogger e comentasse,não me encomodo com críticas,e tbm com elogios.
    tem espaço pra mais um louco lá!!
    abraços........
    rick

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