quinta-feira, 31 de março de 2011

Querido diário,

Hoje foi um dia bem legal. Mas pra você entender porque meu dia foi legal, você precisar ouvir o que eu tenho pra te contar sobre a minha vida. Não tenho tanta experiência nela, sabe. É que eu tenho 10 anos, e meu pai diz que 10 anos é idade de quem ainda fede leite, como eu. Ele é engraçado, meu pai. Bom, quando eu tinha 6 anos, comecei a estudar num lugar chamado escola. Não sei se você conhece, mas é um lugar chato onde todo mundo aprende a ser igual ao professor. O que acho esquisito, porque não quero ser professor. Deve ser chato.

A melhor parte de ir pra aula de professor é que a Juliana sempre estava lá.

A sensação era boa, a sensação de ver a Ju, sabe? Dava um friozinho e uma dor na barriga. Acho que é porque ela me fazia ficar com vergonha do dente que perdi. Era o da frente. Eu não queria que ela achasse que eu era um menino que perdeu o dente da frente. Ela sentava lá na primeira cadeira, da fila da direita pra quem vive no fundão. Eu não tinha coragem de conversar com ela. Na verdade, eu nem tinha coragem de conversar naquela época. Mas, com ela, eu tinha vontade. Um dia, mandei um bilhetinho anônimo enrolado num bubaloo de tutti-fruti, pra ver se ela olhava pra trás e me notava. Aí ela não olhou. Mas ela também nem recebeu o bubaloo. É que o Pedrinho Sarda, que vivia roubando meu lanche, roubou mais uma coisa de mim.

Quando chegamos na 3ª série, ela conseguiu ficar mais linda ainda. E eu mais feio. Pelo menos meu dente tinha crescido. Mas eu ainda tinha vergonha dela. Perguntei pra minha mãe porque eu tinha que sentir isso com ela. Minha mãe respondeu que é por causa da graça. Eu não entendi muito bem. É que na verdade ela não disse com essas palavras. Ela só riu, sem dizer mais nada. Aí achei que era pela graça que eu sentia aquilo pela Ju.

Ela conseguia ficar mais cheirosa a cada dia. Sempre que eu via a Ju subindo as escadas pra entrar na sala, fazia questão de ficar do lado da porta pra poder sentir o vento da passagem dela batendo no meu rosto. Acho que meu coração também gostava, porque ele ficava batendo rápido, rápido quando ela fazia isso.

Diário, acho que gosto da Juliana mesmo. Aí hoje eu fiz questão de contar pra você o que aconteceu na escola. Sempre tive medo de dizer pra Ju o que eu sentia quando a via, achando que ela não estava nem aí pra mim. Hoje, quando estava brincando no parque da escola, vi que a Juliana estava sozinha no banco que tem lá. Respirei fundo e resolvi ir em direção a ela. Quando sentei no banco, ela olhou pra mim e sorriu. Fiquei muito feliz. Aí, ela tirou do bolso um bubaloo e me entregou. Você acredita que tinha um bilhete enrolado nele? Ri sozinho e abri. Quando vi o que estava escrito, não soube muito bem dizer o que significava, mas sabia que era bom. Estava escrito “Eu te amo”. Acho que é uma coisa legal.

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