segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Máscaras de Gelo

Carter já não encontra a mesma facilidade para postar seus textos. Em meio à loucura vivida por sua personificação perante à vida, ele tenta ao máximo não deixar seu espaço de descanso morrer. Enquanto dita essas palavras, Carter se lembra dos últimos dias em que esteve sem compartilhar suas experiências, sem soltar um suspiro de alívio por saber que alguém pode, mesmo que ainda raramente, concordar com seu ponto de vista, ou até mesmo discordar, pois as tais críticas são necessárias por dar uma noção contrária àquela que ele está acostumado a possuir, auxiliando no crescimento do seu ser. 
Há 2 dias atrás, Carter teve uma conversa que não o deixou muito feliz. Abençoado por possuir um certo, e pequeno, grupo de amigos em que ele sabe que pode confiar, Carter há algum tempo se sente incomodado com uma certa atitude de um dos membros da família. Aqui, conhecido como Tommy. 
Tommy é uma pessoa espetacular em toda a sua gama de características. Companheiro, extrovertido, impolgante. Um amigo e tanto. As reuniões com toda a família se mostram prazerosíssimas quando ele está presente.
A vida dada a ele não é das piores. Seu pai, um sujeito sistemático e muito fechado se mostra um ótimo exemplo. Conseguiu todas as coisas que tem hoje com muito suor e dedicação. O que se mostra verdade na mais recente conquista de seu filho: um carro comprado com o seu próprio dinheiro. Tommy lutou muito por isso, e com certeza isso se deve à criação dada pelo pai. 
Sua namorada, Marie, é uma pessoa excepcional. Com um coração grandioso, ela faz questão de estar perto de todas as pessoas que o fazem feliz. Os dois namoram há um bom tempo. Mais precisamente há 3 anos. Carter fica estasiado quando encontra detalhes da importância de Tommy na vida dessa garota. Ao entrar na cozinha da casa de seu amigo, ele percebe um recado grudado na porta da geladeira. Nele, encontramos escrito: 

"Amor, que todos os dias você leia esse meu recado e acorde com um sorriso no rosto. E que esse mesmo dia seja repletos de motivos que o façam sorrir, como o que vou citar abaixo:

Eu te amo. Marie."

Carter simplesmente fica fascinado ao ver isso. Uma relação duradoura é composta por detalhes. São eles que fazem a diferença. Tommy não vive sem sua garota. Marie não vive sem seu companheiro. É fato.

Mas aí entra a outra face da verdade. 

Resumida na palavra "infidelidade", essa parte do namoro é composta por um jogo de mentiras que testam a capacidade de Carter ao máximo. Tommy, há algum tempo, não precisa buscar em outros corpos o desejo, o carinho, que todo ser humano busca quase que insaciavelmente. Ele, há 3 anos, os possui todos os dias. Marie  oferece a ele esse paraíso.
Mas ele o faz. Carter presenciou isso milhares de vezes. Fotos, vídeos, depoimentos. Os meios de se descobrir isso são variadíssimos. 
A punhalada é tão intensa, que em uma frase, Tommy mostrou para Carter que não dá o devido valor à sua garota, dizendo:

"Se ela quisesse me trair com a mesma intensidade, teria que fazer isso demais, pois eu mesmo já perdi as contas de quantas peguei até hoje, durante nosso namoro".

É época? Pode ser. Mas é de cedo que mostramos nosso caráter. Carter já disse várias vezes a Tommy que fica meio incomodado com tantas traições, até mesmo por conhecer Marie bem, e saber que ela não merece isso. Mas o amor é estranho. Se Tommy se separa de Marie, os dois são capazes de se matar. Quando estão juntos, é o namoro mais concreto que já se viu. Quando ele está longe dela, é o namoro mais frágil que já existiu.
Difícil entender. Muitos morrem sozinhos, sem ter conhecido e presenciado aquela tal lenda urbana de que "cada um possui sua alma gêmea", e existem pessoas que aparentam uma relação repleta de confiança, mas que, se conhecermos a mesma a fundo, perceberemos podres que mal podem ser comentados. 
A história é tão pejorativa que Tommy, visando se safar de uma tropeçada que deu ao não planejar bem o momento da traição, já foi capaz de destruir a imagem de uma outra pessoa que havia se metido em seu namoro. Carter confessa que essa tal pessoa não havia sido muito feliz em sua atitude, mas não existem motivos para Tommy ter feito o que fez. Hoje, a família de sua namorada é dividida entre os que apóiam o namoro e os que desconfiam do mesmo.
Mas culpar Tommy é afirmar que possuímos teto de vidro. A traição não se dá apenas através do ato carnal. A traição não acontece apenas em um namoro. A traição acontece em vários momentos de nossa vida. Momentos em que nos pegamos omitindo alguma informação sobre onde se encontra um amigo, quando sua namorada nos liga preocupada com o seu amor. A traição acontece quando, em uma noite de bebedeira, de farra, chegamos em casa irritados, fazendo com que as pessoas que se importam conosco se preocupem e venham nos perguntar se estamos bem, e nós, com uma estupidez embriagada, respondemos "Me deixa em paz", batendo a porta do quarto logo em seguida. A traição acontece quando fingimos ser quem não somos. A traição faz parte do ser humano. 
Carter está traindo a amizade de Tommy ao expor sua opinião aqui. Mas entre o amor e a desconfiança, Carter não possui dúvidas ao fazer sua escolha. 
O fato é que, quando encontramos aquela pessoa que nos faz querer sonhar, acordar e voltar a dormir todos os dias com um sorriso nos lábios, o amor deve ser preservado. E Tommy não o faz.
Suas atitudes estão sendo discutidas por várias bocas, questionadas por várias personalidades e, logo logo, se confrontarão com a principal delas: a personalidade que ele conhece há 3 anos e que o ama como ninguém nesse mundo o faz.
Carter espera que, na pior das hipóteses, Tommy reflita com tudo isso e aprenda que o amor não é um sentimento que funciona apenas quando está em contato direto com a tal pessoa que faz seu coração duvidar da não-existência do paraíso.



E ele deseja uma ótima semana a todos.

sábado, 6 de setembro de 2008

Movimentos Involuntários

O relógio marca quase meia-noite. As nuves escondem a face brilhante e aterrorizante da lua. A conversa entre as duas garotas é quase um ato prazeroso e obrigatório. Enquanto contam seus segredos, o vento bate nas janelas que o arremessam de volta ao clima sombrio encontrado do lado de fora. Thalitta, mais conhecida como Tita, tenta convencer sua amiga, oferecendo-a uma oportunidade de cometer uma loucura, como nunca fez em toda sua vida. A piscina é o alvo. O relógio quase as convence de que não é uma boa opção. Mas para os loucos, a boa opção nunca é a melhor.
Seus passos ecoam pelos corredores do hotel. O sono dos hóspedes ecoa mais forte, fazendo com que eles nem sintam que ali se encontram duas garotas prestes a conhecer o significado da palavra medo.
O roupão é lançado em direção às cadeiras encontradas ao redor da piscina. As duas mergulham como se acreditassem que, submersas, encontrariam o motivo de terem sentido aquela vontade de fazer algo diferente, algo fora do padrão. Não que nadar de madrugada seja tão fora do padrão assim, mas convenhamos que, em uma noite de frio, não é o melhor a se fazer.
Elas sabem disso. O frio bate na pele como se quisesse entrar dentro do nosso corpo. Os arrepios são constantes. As mãos de Tita se esfregam, uma na outra, tentando criar atrito o bastante para esquentar todo seu corpo. Ela percebe que seus dentes se batem, ela tenta dizer isso à sua amiga, porém, só consegue dizer que está "muito friiiio".
Resolvem voltar para seus respectivos quartos. Sorrindo, elas pegam o elevador sozinhas, ou em grupo, em meio à multidão de emoções que teima em fazê-las sorrirem, mas sempre avisando-as que algo está por vir.
O corredor de destino se encontra vazio. Em passos curtos elas vão olhando, número por número, a referência de cada quarto dali. Chegando ao quarto de número 805, elas percebem que a aventura estava muito perto de chegar ao fim.
Leigo engano. Tita envolve a maçaneta com sua mão, faz um movimento para a direita, mas não obtém resposta. Engraçado. Sua mãe havia dito que deixaria a porta aberta. A dúvida toma conta de sua mente por alguns segundos. A partir daí, o clima encontrado em meio às nuvens mostra sua verdadeira face. Tita bate na porta, toca a campainha e ninguém responde. Incessantemente, ela repete o movimento que resulta em um sonoro aviso de que alguém está ali. Mais algumas vezes, nada acontece.
Com frio, medo e dúvidas, as duas garotas entram em desespero, pois não há ninguém para ajudá-las, e o risco de se pedir ajuda a alguém que não conhecem é muito grande. Muitos diriam para pedir ajuda à recepção do Hotel, mas elas não conseguem se mexer de tanto medo. Motivo? Logo após as tentativas frustradas de tentar chamar atenção através da campainha, elas ouvem um grito que ecoa por todo o hotel. Um grito estarrecedor. Um grito paralisante.
O medo escala a espinha de cada uma delas. O abraço é inevitável. Pela primeira vez, elas se abraçam por um motivo diferente do habitual afeto que têm, uma pela outra.
A bateria do celular não responde. Suas pernas fazem o mesmo. O escuro toma conta do corredor.
Tita se lembra que seu vizinho havia conversado com sua mãe há alguns dias. Ela resolve tentar bater em sua porta, quase que sonhando com o momento em que ele a ofereceria seu telefone para que ela pudesse pedir ajuda à sua mãe.
Mas antes de encostar na campainha, ela percebe que o número 806 não estava mais ali. Mas ela havia visto o mesmo dias antes. Porque haveria de sumir assim?
Segundos depois de se perguntar isso, Tita olha para sua amiga de uma forma, digamos, "decepcionante". Sua amiga não entende, pois ainda se encontrava em estado de choque. Aquele grito poderia ser um assassinato! Ou pior, algum tipo de tortura poderia estar acontecendo ali, naquele momento. Tita pede para que ela se acalme e olha para o relógio. Os ponteiros a dizem que é hora de contar a verdade.
Com claras palavras, ela diz: "Estamos no bloco errado."
As risadas são frutos dessa frase.
Com passos lentos e olhares perdidos, elas se dirigem ao outro bloco, vizinho deste que havia proporcionado tantas aventuras em tão pouco tempo a essas duas garotas.
Tita abre a porta de seu quarto e corre em direção ao lado direito da cama onde sua mãe se encontra. A abraça e diz que a melhor coisa que já aconteceu em sua vida é notar o quão belo é o silêncio das pessoas que ela ama. Pelo menos durante alguns dias, Tita e sua amiga não querem ouvir falar em gritos.

Carter fica fascinado quando, em um simples equívoco, as pessoas encontram animação para descrever de forma fantástica o significado que aquilo possuiu durante todo o tempo em que se tornou eterno.
Assim, o nosso amigo os deseja um bom fim-de-semana.